quarta-feira, 12 de maio de 2021

CORES QUE FAZEM SENTIDO - amarelo


 Azulejo italo-flamengo

Majólica

Oficina Den Salm, Antuérpia

Bélgica, 1558


Azulejo policromo nas cores amarelo limão, amarelo ocre, laranja, azul-cobalto, azul claro, verde, manganês e branco. Apresenta fundo amarelo com desenhos delicadamente delineados a azul-cobalto. À esquerda arruma-se uma secção de panóplia militar (escudo, bainha, lança e alabarda), donde parte uma fita amarelo ocre, rematada por borla pendente. No canto inferior direito um pássaro, de longo bico, pousado sobre haste branca com fita pendurada e, ao lado, uma borboleta esvoaçante.

Este é precisamente um exemplo onde o amarelo é sinónimo de ouro e de luxo. No século 16 os azulejos eram utilizados para dignificar igrejas, capelas, conventos, enobrecer palácios, revestindo espaços de habitação e “grottos”, isto é, pequenos nichos ou recantos dispersos pelos jardins. A sua aplicação era claramente um sinal de distinção e, naturalmente, quanto mais longínqua a origem e requintada a decoração, maior o prestígio de quem encomendava. Este azulejo provém do Paço Ducal de Vila Viçosa e integrava uma das encomendas a Antuérpia, feitas cerca de 1558, por D. Teodósio I, 5º Duque de Bragança, destinadas ao revestimento de recintos afetos aos seus aposentos e aos da sua segunda mulher, D. Brites. Nesses espaços de ostentação, estava associado um sumptuoso programa decorativo que envolvia para além de azulejos, pinturas murais ou de teto douradas, tapeçarias, tapetes, panos de armar e mobiliário diverso.

Muitos destes artigos eram adquiridos em Antuérpia, ao tempo importantíssimo entreposto comercial e uma das mais ricas cidades da Europa. A sua prosperidade refletia-se no desenvolvimento artístico e na produção de artigos luxo, como tecidos, tapeçarias, objetos em metais preciosos, pinturas, cerâmica e azulejos. Era, portanto, o centro onde se podiam adquirir os melhores produtos para as mais faustosas casas europeias. Não seria assim de estranhar que o Duque de Bragança, requintado, culto, conhecedor e apreciador das artes, encomendasse à oficina Den Salm, a melhor de Antuérpia, estes azulejos sem paralelo em Portugal. Dando prova do mais avançado gosto renascentista os diferentes painéis seguiam um complexo e muito cuidado esquema decorativo, adequado aos espaços a que se destinavam e que incluía cartelas com o brasão do encomendador, cenas do Antigo Testamento, heróis da Antiguidade clássica, enquadradas por ferronneries, puttis, panóplias militares e musicais, pássaros, insetos, símios, urnas, festões, flores e frutos variados. Nesta nova estética em que as cores ganham uma importante dimensão, também as gravuras que circulavam por toda a Europa são fonte de inspiração.

Estes azulejos, não sendo os mais antigos revestimentos de majólica aplicados em Portugal são, dos primeiros testemunhos, os que apresentam um programa mais extenso e inovador, introduzindo na decoração cerâmica as ferronneries e os fundos amarelos. O seu custo, conhecido através do Inventário realizado por morte de D. Teodósio, após 1563, também não tinha comparação, sendo vinte vezes mais caro do que os azulejos lisos de fabrico nacional e oito vezes superior aos encomendados em Sevilha, sem dúvida que se tratavam de imponentes revestimentos de aparato.

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