quinta-feira, 29 de julho de 2021

CORES QUE FAZEM SENTIDO - azul índigo

 

Azulejos

Cerâmica siliciosa, moldada e pintada sob vidrado

Irão, dinastia Qajar, 1865-85


Se há uma cor que se associa à Pérsia, atual Irão, é precisamente o AZUL. Está relacionada com o cobalto, pigmento raro e dispendioso extraído das minas persas de Caxã, usado nas manufaturas do vidro e cerâmica e exportado para a China, a partir do século 14, para colorir de azul as brancas porcelanas. É um azul vibrante que encanta, tal como o tom usado nestes dois azulejos.

Azulejos moldados com decoração figurativa pintada sob vidrado. Retratam cenas de caça, com archeiros montados sobre cavalos brancos, a perseguir javalis. Os homens de turbante na cabeça, trajam uma veste interior longa, casaco curto, um deles aberto e debruado a pele e o outro fechado com alamares, cintos, calças e botas pelo joelho. Apresentam-se com o tronco voltado para a esquerda, olhando para trás, com o arco esticado entre as mãos. Abaixo, correndo a par dos corcéis a galope, dois javalis em fuga. O fundo é azul, semeado de plantas e flores, com alguns edifícios ao longe, no canto superior esquerdo, e montanhas no lado oposto.

A composição é delineada e pintada, sobre a base branca, com diversas cores obtidas a partir de pigmentos minerais e metálicos. O cobalto era utilizado para o azul, o manganês para o arroxeado, o cobre para o verde, o antimónio ou o ferro para o amarelo e o crómio para o preto. O contorno a preto era um passo fundamental para acentuar a definição do desenho, uma vez que as cores podiam escorrer um pouco no vidrado durante a cozedura.

A cerâmica siliciosa destes azulejos, era um material usado no Egito, na Síria e no Irão desde o século 12 e resultava de uma pasta obtida a partir do quartzo e vidro, moídos, misturados com uma argila branca, muito fina. Mais clara, compacta e resistente que o barro tradicional, a sua origem prende-se com as tentativas de igualar as qualidades únicas da porcelana chinesa, cuja brancura e brilho não tinham rival. Apesar de diferente, esta pasta representou uma grande evolução, pelas suas qualidades de resistência e maleabilidade, sendo possível moldá-la nas mais diversas formas e servindo de base ideal à pintura aplicada diretamente ou sobre uma fina camada de engobe branco. Nesse campo oferecia grandes possibilidades decorativas, sobretudo após a adoção do vidrado transparente alcalino que garantia a estabilidade dos pigmentos coloridos usados na pintura sob vidrado, para além de conferir um brilho e impermeabilidade, extras. A cerâmica siliciosa decorada com pintura sob vidrado era preferencialmente usada na azulejaria e na cerâmica de luxo dos povos islâmicos do Médio Oriente, primeiro no Irão onde o seu uso se prolonga pelos séculos 19 e 20, no Egito e na Síria a partir do século 15, e na Turquia na célebre cerâmica de Iznik, cujo apogeu acontece no século 16.

A partir de meados do século 18 e durante a dinastia Qajar (1779- 1924) assiste-se no Irão a um período de relativa paz que levou à construção de novos edifícios e palácios, o que significou um novo alento para a indústria dos azulejos. Essa produção centrada em Teerão e Isfaão, inspira-se em modelos anteriores, nomeadamente de tradição Safávida, a dinastia reinante entre os anos de 1501-1732, que utilizava a representação figurativa, de personagens enquadradas em paisagens, muitas a cavalo, cenas da corte, banquetes e temas épicos da literatura e da poesia. Está também associada ao aparecimento de uma nova cor, o rosa.

Na segunda metade do século 19, muitos destes azulejos, extremamente decorativos e apreciados pela sua temática, apuro técnico, pintura delicada e cores apelativas, para além de se destinarem ao consumo interno, também eram escoados para o estrangeiro, através de encomendas e compras de exemplares isolados, recordações adquiridas por visitantes ingleses de passagem pelo Irão. Na Inglaterra, muitos foram aplicados em fogões de sala de casas de campo, outros integram hoje coleções de museus, como o Victoria and Albert Museum ou o British Museum, de Londres.

segunda-feira, 26 de julho de 2021

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Dia Mundial da Liberdade de Pensamento


“Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular”.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

ATL JARDINARTE 2021



 Lembramos aos educadores das crianças inscritas que amanhã começa o ATL Jardinarte. Será de 13 a 16 de julho das 14h00 às 17h00. ‍

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Recordando a exposição temporária "AS CRIANÇAS DA CASA DA CALÇADA"

 






















Pode ser "revisitada" através do livro e/ou através da visita temática que aborda as diferentes vivências culturais e educacionais a partir das representações de crianças nas peças do Museu.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

CORES QUE FAZEM SENTIDO - azul índigo

 

Funchal from São Lázaro

Litografia impressa a preto e aguarelada

Andrew Picken, desenhador e litógrafo (Londres, 1815- Londres, 1845) 

Edição do autor, Londres, 1842


É o AZUL, intenso no mar, suave no céu e mais escuro nos complementos do traje popular madeirense, que se destaca nesta panorâmica oriental da cidade do Funchal. A vista registada a partir do antigo Hospital de São Lázaro, nas redondezas do atual Parque de Santa Catarina, mostra em primeiro plano um grupo de naturais reunido em redor do rapazito que toca machete. As crianças sentam-se no chão, atentas ao desempenho do pequeno tocador. Estão acompanhadas por dois jovens adultos que, mais altos e de cada lado, equilibram visualmente a composição. O jovem, de pé, carrega ao ombro um bordão com um casaco suspenso, bem como galinhas e perús, presos pelas patas. A mulher sentada, ocupa-se a fiar, com a roca sob o braço esquerdo, torce o fio entre os dedos e enrola-o no fuso que segura na mão direita. 

No traje destaca-se a baeta azul, do tecido de lã, tingido, usado em certas peças do vestuário tradicional, como nas capas, casacos, coletes e carapuças.   O homem veste camisa e calções pelo joelho, brancos, jaqueta curta, botas de couro de cano largo e carapuça na cabeça. As crianças trajam de modo semelhante, variando apenas algumas calças que são compridas, o lenço escuro amarrado num nó que um deles traz ao pescoço e, nas cabeças, para além das habituais carapuças, um chapéu de palha e um barrete de orelhas. A fiadeira usa saia listada, blusa branca e corpete vermelho que desponta sob a capa curta azul, da mesma cor da carapuça que traz sobre os cabelos apanhados. 

Pequenos detalhes ilustram algumas curiosidades locais, como a pequena lagartixa prestes a avançar sobre as bagas e os frutos de um prato pousado sobre o murete mais próximo e as tabaibeiras que crescem à direita. Depois, à esquerda, abre-se uma rua empedrada e inclinada onde transitam um burro carregado com barris e um vilão que observa a cidade. Segue-se um amontoado de casas de dois ou mais pisos, janelas envidraçadas e coberturas de telha, tendo a última um balcão de madeira na fachada voltada ao mar. 

Ao fundo espraia-se o Funchal com o casario concentrado ao longo da baía e subindo, ainda esparso, pelas encostas. Na cidade distinguem-se a Fortaleza-Palácio de São Lourenço com o amplo recinto da Praça da Rainha em frente; as fachadas e a cúpula do Convento de São Francisco, entre o arvoredo; a inconfundível torre da Sé e, ao longe, do lado de dentro da muralha, a vegetação da Praça Académica. A praia é larga e inclui uma zona densamente ocupada por embarcações varadas, junto da alta coluna do Pilar de Banger. Apresenta-se amuralhada em toda a sua extensão até ao Forte de São Tiago, bem no fundo. Ligeiramente acima deste, ergue-se a igreja da mesma invocação – hoje dedicada a Nossa Senhora do Socorro. A partir daí seguem-se as quintas, formando uma linha ascendente e bem definida que culmina na afamada Quinta do Palheiro. Muito abrangente, esta perspetiva da costa Sul tem como limite Leste, o recorte da vertente em suave declive até à ponta do Garajau, e Norte na zona mais alta e pouco habitada, quase escapando ao ângulo de visão, a igreja do Monte, inconfundível pela sua característica fachada enquadrada pelas duas torres. 

Esta litografia pertence ao álbum “Madeira Illustrated”, de Andrew Picken, que nos meados do século XIX constituiu o mais poderoso veículo de divulgação da Madeira como estância terapêutica para as doenças pulmonares que então grassavam a Europa e os Estados Unidos. Tornou-se uma verdadeira referência para os visitantes e todos os artistas que depois retrataram a Ilha. Muito elogiado, teve rápida e ampla aceitação, sendo editado por duas vezes com as datas de 1840 e 1842, embora na realidade lançado nos anos de 1841 e 1844, respetivamente. O álbum reúne uma seleção de 8 das mais marcantes aguarelas, das inúmeras que Andrew Picken realizou entre 1837 e 1840, durante a sua primeira estadia na Ilha. Litografadas pelo próprio, três são dedicadas ao Funchal e as restantes cinco representam paisagens do litoral e da costa norte. As estampas foram impressas a preto e o álbum podia ser adquirido na sua versão simples, sem cor, ou aguarelado, mas nesse caso o seu preço duplicava. Incluía um texto informativo “Description of Madeira” da autoria do médico escocês Dr. James Macaulay (Edimburgo 1817- Edimburgo 1902) e do próprio Andrew Picken, que se encontrava dividido em quatro secções intituladas: “Historical Sketch”; “Description of the Island”; “Remarks on the Climate” e “General Information”. Um mapa da Madeira com os itinerários dos passeios de Picken pela Ilha, complementava o conjunto. 

Ao captar a beleza da baía do Funchal, é evidente que o artista se esforçou por expressá-la em todo o esplendor, acrescentando um encanto extra través da integração cénica dos figurantes. Deste modo consegue introduzir, através do registo iconográfico e do descritivo que complementa esta litografia, um apelativo folclórico e pitoresco associado aos trajes e costumes locais, bem ao gosto da época. 



sábado, 3 de julho de 2021


Informamos que o ATL JARDINARTE já se encontra COMPLETO. Não iremos receber mais inscrições. Obrigada.