Calvário
Óleo sobre cobre
Flandres, séc. 16
Representação do Calvário com
Jesus crucificado, sob a inscrição INRI (Jesus o nazareno Rei dos Judeus), ao
centro e ladeado pelos ladrões, o bom e o mau, suspensos pelos antebraços nas respetivas
cruzes. Num registo inferior, à esquerda, São João Evangelista e uma das Santa
Mulheres amparam Nossa Senhora que, de mãos cruzadas sobre o peito, ergue o
olhar para o seu Filho. Ajoelhada à direita, apoiando-se na cruz, Maria
Madalena levanta o manto como que a tapar o rosto. A seus pés encontram-se o
vaso dos santos óleos, um dos seus atributos, algumas ossadas e uma caveira. O
crânio junto à cruz é uma referência a Adão, ao pecado original e à redenção
através de Cristo, mas também remete para Gólgota, o lugar da caveira,
designação hebraica da colina onde se realizavam as execuções capitais.
Um par de soldados mantem-se
perto, enquanto dois cavaleiros conduzem o exército em direção à cidade
fortificada de Jerusalém, que se vislumbra longe. Todo o fundo é escuro e nublado, tal como as
trevas que assinalaram o momento da morte de Cristo, num profundo contraste com
a extrema palidez do corpo de Jesus, dos rostos dos seus entes mais próximos, e
com os brancos da pelagem do cavalo, dos véus e coifa das mulheres. O vermelho
é a cor que ressalta, distribuída estrategicamente para definir zonas,
hierarquizar os planos, destacar figuras e acentuar o dramatismo da cena. O
foco mais forte concentra-se no manto que envolve São João Evangelista,
captando de imediato o olhar para o apóstolo, realçando o seu sofrimento e a
dor das personagens que o acompanham junto à Cruz. Vermelho é sangue e sacrifício, mas também é a
cor do amor e o amor incondicional por Cristo caracteriza o apóstolo mais
querido, o único que acompanhou o seu martírio e morte, a quem confiou o
cuidado de Maria, sua mãe, e talvez por isso seja essa cor geralmente usada no
seu manto ou vestes.
Esta
pintura a óleo sobre cobre, testemunha a adoção da chapa metálica como novo
suporte da pintura, tendência que se inicia no princípio do século 16,
generaliza-se durante a segunda metade do mesmo e atinge os seu apogeu nos
meados do século 17. A sua origem ocorre em Itália,
disseminando-se pelos países do Norte da
Europa, nomeadamente Antuérpia que se torna um importante centro de exportação,
especialmente para Espanha. A sua difusão associa-se ao aparecimento de uma clientela de classe média
mais abastada, que tende a adquirir obras de menores dimensões, transportáveis,
para enriquecer as suas residências. Está intimamente ligada ao culto e religiosidade,
privadas, quando a devoção transpõe as igrejas e capelas, para se manifestar em
oratórios particulares nas casas, ou pequenos altares portáteis destinados
acompanhar os donos nas suas deslocações.
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