AZULEJOS DE FACHADA
Fábrica de Loiça de Sacavém, 1900-1925
Direção Regional do Trabalho
Rua João Gago, n.º 4, Funchal
Não é caramelo salgado, mas até parece. A cor é tão apetecível como o doce. E apenas resta uma barra de 3 fiadas de azulejos, para atestar o revestimento original desta fachada.
São azulejos industriais, produzidos pela Fábrica de Loiça de Sacavém, no primeiro quartel do século 20. Realizados em pasta de pó pedra, com a decoração relevada, prensada mecanicamente e depois revestida a vidrado translúcido castanho-mel. O especial encanto destes revestimentos reside precisamente nas diferentes tonalidades da cor dos vidrados transparentes, as quais resultam das variações da espessura da respetiva camada, que se torna mais fina e clara onde o relevo é alto e espessa e intensa nas zonas baixas.
São azulejos seriados de padrão, unitário e repetitivo, de flor estilizada e pétalas dispostas em cruz ao redor de um núcleo quadrangular e com os 4 cantos decorados com elemento de ligação para formar florões secundários entre os módulos. Estão perfeitamente conjugados com o estreito friso, da mesma cor e técnica, ornamentado com motivos florais inscritos em cadeia de reservas ovais e quadrangulares intercaladas que remata o topo. Complementa o conjunto uma extensa barra de fundo branco e flores coloridas, a estampilha com retoques de pintura manual, que se estende coroando todo o piso térreo do edifício. Todo o revestimento é característico do período Arte Nova, da produção da Fábrica do Loiça de Sacavém e é coerente com os anos 20, período de construção atribuível ao edifício. Curiosamente, em 1923, neste n.º 4 (atual Direção Regional do Trabalho) estava instalada a casa de bordados “German & Cie.” (de L. Boutitie e Sucessores) e o Correio e Telégrafo funcionava, no mesmo imóvel, mas na porta abaixo, n.º 2 (hoje o restaurante “O Calhau”).
A Arte Nova floresceu em Portugal e refletiu-se na azulejaria nacional através de composições arrojadas de linhas elegantes e cores vivas, inspiradas em formas movimentadas e na natureza. Azulejos de padronagem, frisos e barras enriqueceram imóveis por todo o país, revestindo as fachadas, pontuando frontões ou emoldurando portas, vitrinas e janelas. Que pena restar apenas esta insólita mostra, do que teria sido um revestimento bem marcante da cidade. Mas não seria difícil devolver-lhe a dignidade, bastando para tal a retirada da cablagem danosa, intrusiva e a harmonização da pintura parietal para uma tonalidade clara, branca ou ocre, menos contrastante.
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