segunda-feira, 21 de junho de 2021

CORES QUE FAZEM SENTIDO - azul índigo

 

Gomis (par)

Porcelana branca pintada a azul-cobalto sob vidrado

China, dinastia Qing, reinado Kangxi, 1662-1722

Elegantes, delicadas, de matéria imaculada e AZUL deslumbrante, estas peças seriam o máximo do requinte nas mesas europeias dos inícios do século 18. 

Par de pequenos gomis em porcelana branca, pintada a azul sob vidrado. Apresentam o corpo em forma de pera, gargalo alto, cintado e longo bico encurvado. As bases, com ligeiro relevo, estão pintadas com pétalas de lótus imbricadas, os bojos são gomados, decorados com ramagens de flores variadas e os ombros preenchidos com uma cercadura de óvulos seguida de outra com fita em ziguezague, formando triângulos. Os gargalos exibem hastes floridas dispostas em bandas espiraladas e os bicos, que arrancam de uma cabeça de monstro, estão pintados com motivos de nuvens dispersas. Não têm asa, mas originalmente teriam uma tampa associada.

Por definição gomis são jarros bojudos e de boca estreita destinados a conter água para lavagem das mãos e por esse motivo estão muitas vezes associados a bacias que recolhem a água por eles vertida. Apesar do seu formato de gomil, é pouco provável que este conjunto de pequenas dimensões, não ultrapassando os 14,5 centímetros de altura, se destinasse a abluções, deveria antes assumir a função das galhetas usadas em serviços religiosos, ou em uso doméstico, para servir azeite e vinagre às refeições, à maneira dos atuais galheteiros.        

As galhetas usadas nas missas eram normalmente encomendadas aos pares e destinavam-se à água e ao vinho que se misturam no cálice durante o cerimonial litúrgico. Por outro lado, nas mesas a sua existência está documentada desde cerca de 1664. Os conjuntos para condimentos, cuja origem está associada aos franceses, poderiam incluir para além do prato de suporte, 2, 4 ou 6 peças, entre recipientes para azeite e vinagre, outros destinados à mostarda, bem como polvilhadores de sal e pimenta, que nesse caso não apresentavam bico, mas tampas perfuradas, fixas com fechos adaptados. Em alguns casos incluem também um açucareiro. No Oriente os primeiros exemplares foram encomendados pelos holandeses ao Japão, que enviavam modelos em faiança de Delft para serem copiados. Existem galhetas dessa origem, marcadas com as iniciais O para “olie” (azeite), A para “azijn” (vinagre), o “S” ou “Z” para molho soja ou zoja e por vezes ainda L “limoen” (limão), condimento usado à mesa na Holanda. 

Na China os mais antigos conjuntos destinados à Europa datam do final do século 17, provavelmente de um período posterior a 1683, altura em que se intensificou o comércio da porcelana e cresceu a procura de formas ocidentais, de modo que vários fornos de Zingdzhen, o principal centro de fabrico no sul da China, se especializaram na produção para exportação, a dita porcelana de encomenda. A maioria dos conjuntos para especiarias ou condimentos foi produzida entre 1730 e 1764, sendo raros os que se mantêm completos até aos dias de hoje. Talvez porque não foram objeto de muitas encomendas por serem considerados demasiado caros, ou simplesmente porque se partiram, ou dispersaram ao longo dos anos e sucessivas partilhas.


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