domingo, 16 de maio de 2021

CORES QUE FAZEM SENTIDO - amarelo

 

Garrafa de licor

Faiança

França, Sarreguemines, 1908

Quanto custa levantar uma pera AMARELA? Será que o amarelo apetecível da pera madura tem um valor acrescido? O melhor é perguntar ao fininho que há anos tenta e não consegue erguer, nem um milímetro. Esta garrafa, ou jarro, servia para o licor, provavelmente de pera.

É um modelo antropomórfico e representa um homem muito magro, tentando erguer uma pera. O volume do fruto é desproporcional à figura, a qual se mostra de queixo apoiado, pernas fletidas e braços esticados envolvendo a pera. O corpo arqueado forma a asa e o chapéu cinzento o gargalo. 

Realizada em cerâmica, designada majólica, este termo está associado à faiança italiana do século 15, revestida de vidrado estanífero pintado a cru e posteriormente coberto por um denso vidrado transparente de óxido de chumbo mas, a partir do século 19, é também utilizado para designar os objetos, sobretudo decorativos, de faiança fina, revestidos com espessos e luzidios esmaltes estaníferos coloridos, de aparência muito semelhante aos antigos. A majólica é desenvolvida, nos meados do século 19, nas oficinas de Staffordshire e especialmente em Minton, que produziu vistosos e belíssimos exemplares de cerâmica moldada. Introduzida em Sarreguemines por Paul Geiger, em 1870, tornou-se uma das suas mais icónicas produções, contribuindo para o seu prestígio dentro e fora de portas. Também em Portugal nesta mesma altura as peças de majólica das Caldas da Rainha atingiram grande popularidade, especialmente as do nosso imbatível Rafael Bordalo Pinheiro cuja criatividade, irreverência e humor, se enquadram num gosto muito próximo ao deste exemplar, datado de 1908. 

A fábrica de cerâmica Sarreguemines, situada na localidade do mesmo nome, na Lorena, em França, junto à fronteira alemã, foi fundada, em 1790, pelos irmãos Nicolas e Augustin  Jacoby e por Joseph Fabry.  A partir de 1799 Paul Utzschneider, alemão, natural da Baviera, entra na sociedade adquirindo as quotas dos irmãos Jacoby. Para a fábrica é o início de um período de grande desenvolvimento e modernização, em que se adotam novas pastas e técnicas, e o processo acaba favorecido pelo bloqueio de Inglaterra que era então a principal fornecedora de cerâmica europeia e pelas encomendas de Napoleão Bonaparte I, que ajudam a impulsionar as vendas. Ao longo do século 19, sob a direção de Alexandre Geiger, genro e conterrâneo de Utzschneidede, e depois do seu filho Paul Geiger, acelera-se o processo de industrialização e de expansão da fábrica, que se converte numa das principais produtoras francesas de loiça utilitária, decorativa e azulejos. Após o conflito franco-prussiano, em 1871, a zona da fábrica fica afeta ao lado alemão e, com o intuito de manter o mercado francês e de evitar as taxas aduaneiras, são construídas duas sucursais em França, em Digoin em 1877 e em Vitry-le-François, em 1871. No início do século 20 consagra-se como uma das principais fornecedoras de cerâmica da Europa, especializada em serviços de mesa, peças decorativas, loiças sanitárias, de higiene e de cerâmica de revestimento, para fogões de sala e paredes. Em 1920 Sarreguemines e as suas filiais voltam a unir-se sob a direção de Edouard Casal, mas em 1940, os alemães ocupam de novo a Lorena e a sua gestão é confiada Luitwin von Boch, ligado à firma alemã Villeroy et Boch. O pós-guerra é difícil, com grande parte do complexo industrial destruído pelos bombardeamentos, Sarreguemines mantém-se em laboração sob a direção da família Cazal, até 1978. Nos anos seguintes é adquirida por diferentes grupos continuando uma marca destacada entre as principais fabricantes francesas, mas a partir de 1982 limita a sua produção à cerâmica de revestimento, nomeadamente aos azulejos, acabando por fechar definitivamente em 2007. 


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