Três percursos

 


 

>Na Casa-Museu são proporcionados três percursos diferenciados. O primeiro reporta-se à Casa da Calçada, onde o visitante acede a salas, cujas denominações evocam vivências de outrora (Salões, Quarto de Dormir, Sala de Jogo, Quarto de Jantar, Sala do Chá, Cozinha) e onde os interiores não exibem apenas objectos, mas procuram mostrar a ambiência da antiga moradia do Coleccionador. É esta particular vocação que caracteriza as Casas-Museus, onde para além das colecções, se devem retratar vidas e ambientes determinados.
Respeitando esta lógica, as peças expõem-se formando conjuntos, para que se possam estabelecer relações, fazer comparações, mas também são organizadas por critérios de harmonia e de adequada integração às diferentes funções dos espaços em que se encontram. O mobiliário de origem nacional e estrangeira, do séc. XVI ao XIX, expõe-
se naturalmente, servindo de suporte a quase todas as outras colecções. É o caso da escultura religiosa, que inclui exemplares de excelente qualidade, de origem europeia e luso-oriental, datados da centúria de quinhentos aos nossos dias. Das paredes pendem obras de pintores nacionais e europeus, na sua maioria atribuídas aos séculos XVIII e XIX. Inúmeras peças de cerâmica utilitária e decorativa, arrumam-se sobre os móveis ou em vitrinas, destacando-se um núcleo à parte, que ocupa espaço próprio, a singular colecção de canecas, muito ampla e variada, abrangendo outro tipo de recipientes tão díspares como jarros, garrafas, potes, ânforas e bilhas.
Os temas e os objectos relacionados com a Madeira foram desde início um dos grandes interesses do Dr. Frederico de Freitas que conseguiu reunir um importantíssimo património iconográfico e bibliográfico, de que as colecções de estampas e de desenhos são o exemplo mais evidente. Fazem igualmente parte do acervo de origem regional um significativo número de peças de mobiliário e de escultura. Refira-se designadamente as figuras de presépio madeirense, datadas dos séculos XIX e XX, que incluem exemplares mais eruditos e outros bem populares, ilustrando algumas tradições locais, testemunham uma devoção que nos é muito peculiar.


Faz todo o sentido integrar neste circuito o Jardim sobre a Calçada, um dos raros jardins sobreelevados ainda existentes no Funchal e que mantém as características tradicionais dos jardins urbanos oitocentistas: a calçada de calhau rolado, o traçado primitivo dos canteiros, o corredor de vinha e a Casinha de Prazer.


A segunda etapa da visita respeita a Casa dos Azulejos, cuja entrada dá acesso ao pequeno e minimalista espaço ajardinado donde se vislumbra uma perspectiva mais recôndita da cidade. A Colecção de Azulejaria, importantíssima pela sua quantidade e diversidade, constituiu sempre um núcleo à parte, sendo por isso exposta em espaço propositadamente edificado e concebido para o efeito. A nova construção responde a exigências específicas de acessos a deficientes, espaços de Reservas e Oficina, Cafetaria e Auditório, bem como resulta de um programa museográfico, da responsabilidade do Dr. Rafael Salinas Calado – 1º Director do Museu Nacional do Azulejo e na altura Conservador Assessor do Museu Nacional de Arte Antiga – desde a primeira hora ciente do potencial pedagógico e didáctico da exposição.
A Colecção de Azulejos é essencialmente constituída por peças, inteiras e fragmentos, que se exibem em conjunto, formando painéis de maiores ou menores dimensões, ou isoladas, quando mais raras. Distribui-se ao longo dos quatro pisos da exposição segundo uma lógica cronológica e de origem, evocando a evolução da cerâmica de revestimento dos primórdios à actualidade.
Abre a exposição um espaço dedicado ao fabrico do azulejo, onde se procura introduzir o visitante nas várias técnicas utilizadas. Mostram-se os diferentes barros, apetrechos e esmaltes de cores diversas, exemplificam-se alguns tipos e etapas da decoração, exibem-se exemplares de diferentes tipologias. Esta introdução ao azulejo beneficia de um poderoso auxiliar, um filme que mostra e confronta os métodos de fabrico artesanal e mecânico. Ao longo da Exposição Permanente de Azulejaria, é possível perceber a evolução do azulejo do século XIII aos nossos dias, a partir do Oriente, com especial enfoque para a produção islâmica, passando pela Europa, com peças medievais, de majólica, um núcleo significativo de azulejaria holandesa e uma importante mostra do fabrico nacional, representado dos primórdios até à actualidade. Realizados em 1998 especificamente para o Museu, três belos painéis da artista madeirense Lourdes Castro encerram com chave de ouro o conjunto da produção nacional.
A visita à Casa-Museu Frederico de Freitas deverá terminar com uma passagem pelo espaço das Exposições Temporárias.

Sem comentários:

Enviar um comentário