terça-feira, 31 de agosto de 2021

Época das vindimas

 

The Lagar or Wine Press 

Litografia, W. S. Pitt Springett (desenhador) T. Picken (litógrafo), Londres,  ca. 1843


sábado, 21 de agosto de 2021

Dia da Cidade

 

Journal of a visit to Madeira and Portugal

O diário escrito por Isabella de França é o relato da sua viagem à Madeira e a Portugal, nos anos de 1853 e 1854. Trata-se de um manuscrito encadernado, constituído por 342 páginas de papel de linho azul, com letra regular, sem rasuras ou acrescentos de qualquer espécie. Não tem título, nem sequer se encontra dividido em capítulos, apresentando apenas as páginas numeradas no canto superior direito. O texto é complementado com um conjunto de 24 aguarelas pintadas sobre papel, por sua vez colado em cartão e, à exceção de uma, todas se encontram identificadas com título e a indicação da página do texto a que respeitam. O conjunto foi adquirido pelo Dr. Frederico de Freitas em Londres, entre os anos de 1937 e 1938. Desde início houve intenção de publicar este inédito, tendo o projeto sofrido sucessivos adiamentos até 1967. Neste ano, o Eng.º João Miguel dos Santos Simões foi incumbido, pela Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, de retomar os trabalhos iniciados por Cabral do Nascimento – responsável pela tradução do texto em 1940 – e orientar a futura publicação. Essa tarefa culminou em 1970, com a edição, portuguesa e inglesa, do Jornal de uma Visita à Madeira e a Portugal (1853-1854), com introdução conjunta de Cabral do Nascimento e Santos Simões, e notas deste último a complementar os textos originais. As anotações, resultantes de uma minuciosa e sistemática investigação, dão-nos informações sobre a identidade da autora, o seu percurso de vida, relações familiares, esclarecem e confirmam diversos detalhes da sua viagem à Madeira e a Portugal. Em 1978 o Dr. Frederico de Freitas lega as suas coleções à Região Autónoma da Madeira, o que naturalmente engloba o precioso conjunto.

Isabella Hurst de França (1795-1880) casara, a 3 de Agosto de 1852, com José Henrique de França, nascido em Londres, mas de ascendência madeirense e proprietário de terras nos
concelhos da Calheta e Funchal. Fora uma união tardia, ela com 57 anos e ele com menos sete, sendo a ida à Madeira uma espécie de viagem de núpcias empreendida, quase um ano depois, para conhecer as origens do noivo. Embarcaram em Londres, a 23 de Julho de 1853, iniciando a viagem de cerca de 23 dias até ao Funchal, onde permaneceram quase 11 meses.
O diário contém a descrição de toda essa estadia, dos passeios pelas redondezas da cidade e outros pontos da costa sul da Ilha. O relato muito vivo e alegre, repleto de curiosidades, pormenores sobre a história, as lendas, os usos e costumes locais, não isento de algumas opiniões questionáveis, constitui um manancial único de informação sobre a vivência da época.

domingo, 15 de agosto de 2021

Nossa Senhora do Monte

 



Nossa Senhora do Monte
Atribuído a Nicolau Ferreira (1731-ca. 1790)
Óleo sobre tela, moldura de talha dourada
Portugal, Madeira, séc. XVIII (3º quartel)


quinta-feira, 12 de agosto de 2021

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

CORES QUE FAZEM SENTIDO - azul índigo


 Jarro

Faiança, moldagem

Fábrica Sant'Anna

Lisboa, Portugal, ca. 1940-1970

Conhece esta personagem de caneca na mão e casaco comprido de um belo tom de AZUL? É Toby Philpot o homem que bebia em excesso e cujos restos se tornaram o barro, usado num jarro de cerveja. 

Jarro antropomórfico em faiança polícroma. Representa uma figura masculina de pé, de grandes olhos, boca entreaberta, bigode mal aparado e cabelos ondulados castanhos. Veste casaco azul comprido, repleto de botões amarelos, calças claras, colete amarelo abotoado na frente e laço ao pescoço da mesma cor. Usa botas castanhas, pelo joelho e um chapéu tricórnio na cabeça. Segura na mão na direita um pequeno jarro castanho e na esquerda um bastão. O bico do jarro é formado pela dobra frontal da aba do chapéu e a asa, em curva e contracurva, implanta-se nas costas, pintada de amarelo.

Apesar de se conhecerem tipologias parecidas anteriores, com um homem sentado, corpulento e bonacheirão, em faiança de Delft, na Holanda, e por sua vez reproduzidas em porcelana de encomenda proveniente da China e do Japão, no século 18, este jarro deriva do modelo inglês, designado Toby Jug. Popular a partir de 1760, representava então um homem, de feições alegres, sentado, de caneca nas mãos. Trajada à época, a figura surgia de casaco comprido, com bolsos, colete, lenço ao pescoço, calções, sapatos de fivela e chapéu de três pontas (tricórnio), servindo uma delas de bico por onde o líquido era vertido. 

Não é certa a origem do nome Toby, mas a maioria defende tratar-se de Toby Philpot (ou Fillpot), alcunha derivada de “fill-pot” atribuída a Henry ou Harry Elwes, um corpulento e afamado bêbado, falecido em 1761, que se dizia ter bebido cerca de 9000 litros de cerveja.  Toby Philpot foi tema de uma canção popular, da autoria do Reverendo Francis Fawkes (1721-1777), publicada em 1761 com o título “Brown Jug” e que contava a história de como o enorme corpo Philpot, após sepultado, se tornara o barro aproveitado por um oleiro para modelar um jarro castanho, o qual, para júbilo da sua alma sedenta, era usado para servir cerveja. Ajudou ainda à disseminação deste modelo a edição da gravura “Toby Phillpot” por Carington Bowles (1724-1793), representando uma alegre e barriguda personagem, sentada, erguendo um jarro numa das mãos e segurando um cachimbo na outra. 

A produção dos primeiros Toby Jugs está associada a Ralph Wood I (1715-72), oleiro de Staffordshire, e ao seu filho Ralph Wood II (1748-95), mas a forma popularizou-se ao longo dos séculos 18 e 19, sendo reproduzida com imensas variações em praticamente todas as fábricas de cerâmica inglesas. Nos bares e tabernas, este tipo de jarro servia para recolher a cerveja do barril, enquanto que a copa amovível do tricórnio era o recipiente usado para bebê-la.

A produção dos Toby Jugs alastrou-se por diversos países da Europa, entre os quais Portugal, como atesta este exemplar realizado na Fábrica Sant’Anna, no século 20, provavelmente entre os anos de 1940 e 1970. Esta fábrica teve a sua origem numa pequena olaria, fundada na zona de Sant’Anna, à Lapa, em Lisboa, corria o ano de 1741. A sua produção inicial caracterizava-se essencialmente pela produção de objetos utilitários em barro vermelho, não decorado e será após o terramoto de 1755, face à crescente e urgente procura de azulejos, mais acessíveis do que a pedra, que se terá virado para o fabrico destes revestimentos e depois de faiança pintada à mão. Entre 1930 e 1931 a fábrica transferiu-se para a Rua da Junqueira e mais tarde, nos anos 40, para a Calçada da Boa Hora, onde ainda continua a laborar, sempre fiel às mais antigas técnicas artesanais, produzindo azulejos, bem como cerâmica tradicional e decorativa.