sexta-feira, 28 de maio de 2021

CORES QUE FAZEM SENTIDO - verde


 Azulejos 

Charles Francis Annesley Voysey (Yorkshire,1857-Winchester, 1941) 

Pó de pedra e esmaltes/ calibragem

Inglaterra, Pilkington's Tile & Pottery Co. Ltd., ca. 1900

Quão profundo pode ser o VERDE? Imenso, por esta amostra dificilmente chega ao fim. E que frescura emana das diversas intensidades do verde usado nestes azulejos de desenho estilizado. Representam túlipas, de linhas depuradas, inscritas num fundo dividido por secções de diferentes matizes da mesma cor. De formas elegantes, curvas suaves e subtis tonalidades, atestam o triunfo do design que dispensa os excessos, de cores e de traços.  

A adoção da prensagem (calibragem) no fabrico de azulejos de pó de pedra, a partir de 1840, veio permitir a sua massificação. Em primeiro lugar, a utilização da pasta de pó de pedra, menos húmida, trazia benefícios. Encurtava em dias o tempo de secagem necessário antes da cozedura, aumentava a sua resistência permitindo reduzir a espessura e diminuía o risco de empeno no forno. Quanto à prensagem, ou calibragem, uma das suas grandes vantagens era servir de base a várias técnicas decorativas o que simplificava o processo de fabrico. Por exemplo no caso da decoração em baixo relevo destes azulejos, era possível realizar numa única operação, o processo de decoração da face nobre e o de corte dos azulejos. Esta particularidade tornava-os mais acessíveis o que impulsionou a sua difusão, especialmente nos azulejos Arte Nova, datados das últimas décadas do século 19 e até cerca de 1914, o início da primeira Guerra Mundial. O método implicava a compactação mecânica da pasta, por meio de um torno, sobre uma matriz de metal com o motivo do desenho inciso. Os desníveis da superfície, menos acentuados nas zonas interiores e fundos junto às linhas em relevo do contorno do desenho, originavam zonas de claro e escuro resultantes da maior ou menor acumulação dos esmaltes translúcidos e coloridos, aplicados posteriormente sobre a chacota. Sendo essa a razão dos belíssimos efeitos de gradação de cor deste tipo de azulejos, cujos esmaltes à base de chumbo serão posteriormente abandonados devido à sua alta toxicidade, perversa para a saúde dos operários. 

Uma das empresas que mais se destaca neste tipo de revestimentos cerâmicos é a Pilkington’s Tile & Pottery Company, localizada perto de Manchester. A sua produção começa em 1893, e rapidamente se desenvolve tornando-se líder de mercado em 1900. Contava com um administrador especializado em química de vidrados e, para além dos seus próprios artistas, recorria a afamados designers externos como Lewis Foreman Day (1845-1910), Walter Crane (1845-1915) e Charles Francis Annesley Voysey.  É precisamente este último o responsável pela criação deste padrão de túlipas e de muitos outros com motivos estilizados, designadamente pássaros, flores e folhas, produzidos de modo idêntico e revestidos de vidrados de cores translúcidas. Charles Francis Annesley Voysey foi um dos arquitetos e designers, mais originais e influentes do seu tempo. Nasceu em Yorkshire em 1857 e após um período de formação com o arquiteto John Pollard Seddon (1827-1906), estabelece-se por conta própria a partir de 1882. Desenvolve os seus primeiros trabalhos na área do desenho têxtil e de papel de parede concebendo padrões atrativos e inovadores. Recorre à natureza como fonte de inspiração, não copia, mas interpreta-a e dá asas à imaginação. Usa a estilização e a abstração para alcançar grandes efeitos decorativos. Revelando um enorme talento, foi chamado a colaborar com as mais destacadas empresas de tecidos, tapetes, papel de parede e azulejos.  Desenhou também mobiliário, artigos de mesa, talheres, objetos de metal, de iluminação e ferragens. Foi um dos primeiros a perceber a importância e o impacto do desenho industrial. No âmbito da arquitetura distinguiu-se através dos seus notáveis projetos de casas de campo, caracterizados pela elegância, linhas sóbrias e geométricas, de cores claras, bem construídas, usando bons materiais, para as quais desenhava os mínimos detalhes, evidenciando um conceito inovador para a época. Não era adepto de revivalismos, privilegiava os materiais à decoração. O seu estilo minimalista, de interiores pouco decorados, mas cuidadosamente projetados e mobilados, enquadram-no nos princípios do movimento Arts and Crafts e tornam-no um percursor dos ideais Modernistas. Participava regularmente nas exposições da Royal Academy, apresentando perspetivas aguareladas de moradias por si projetadas, e na Arts And Crafts Exhibition Society, de Londres, exibindo as suas criações de mobília, padrões decorativos, objetos domésticos e fotografias das suas casas.

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