PAINÉIS DE AZULEJOS “FLORISTA” E “FOLHAS DE BANANEIRA”
Hansi Staël (Budapeste, 1913 – Londres, 1961)
SECLA, Caldas da Rainha, 1957
Oculista Symphronio
Rua João Gago, n.º 14, Funchal
Não é educado perguntar a idade às senhoras. Mas quem acredita que esta jovem florista já entrou na terceira idade? 68 Primaveras passaram e ela continua jovial e garrida, tão fresca como as suas flores. Um verdadeiro regalo para a vista!
Era no interior do antigo “Oculista Symphronio” que se podiam apreciar 2 painéis de azulejos de temas típicos da Madeira. A florista, de traje regional com a sua cesta transbordante de flores bem equilibrada à cabeça e a outra pousada a seus pés, mostrava-se em modo de postal turístico, numa rua calcetada do Funchal. Num plano secundário, não faltava o carro de bois a passar, frente a um prédio. A segunda composição era menor e exibia folhagem de bananeiras sobre um fundo de céu claro, de um dia ensolarado. Neste trabalho cativa a pincelada solta, a aparente simplicidade do traço e a escolha dos tons, coloridos e variados. Surpreende o recorte irregular de ambos os painéis e o pormenor de num deles ter sido usada, a par da pintura cerâmica tradicional, a ancestral técnica de aresta, que subtilmente dá relevo e conduz o olhar para as longas hastes das orquídeas que a vendedora segura na mão e para outras flores variadas que enchem a cesta. A composição original era mais ousada, pois o desenho libertava-se dos azulejos e continuava, fluido e sem contornos definidos, pintado na parede, completando o carro, mas sem a preocupação de incluir os bois. Solta, do lado oposto, outra pintura mural mostrava um apontamento de barcos de pesca, com as redes ao alto e palmeira, remetendo para a pitoresca baía Câmara de Lobos.
Tradição e modernidade. Esta duplicidade está aqui bem patente e é o atributo que melhor define Hansi Staël (Budapeste, 1913 – Londres, 1961) a autora que assina este inédito revestimento, datado de 1957. Nesse preciso ano a artista, residente em Portugal desde 1946, termina a sua estreita colaboração com a Fábrica SECLA (Sociedade de Exportação e Cerâmica, Lda.), cuja direção artística assumiu em 1954 e onde fundou o Estúdio SECLA, vocacionado para as vertentes de inovação estética e decorativa da produção.
Não foi possível apurar ainda quem, ou para que estabelecimento foram adquiridos estes painéis. Mas o imóvel, projeto do Arquiteto Raúl Chorão Ramalho (Fundão, 1914-Lisboa, 2002), estava concluído em 1955, pelo que é de supor ser também da sua autoria o arranjo interior do primeiro espaço comercial do rés-do-chão e quem sabe a sugestão da própria encomenda. Em 1967, funcionava aí a representação da Fábrica de Louça de Sacavém na Madeira, pelo que é pouco plausível a aquisição de azulejos criados por um ceramista associado a outra unidade fabril. Em 1968 para aí passou o “Oculista Symphronio”, mantendo-se aberto até este ano. O espaço atualmente encerrado deverá ter outra utilização, pelo que estes belíssimos azulejos não estão de momento acessíveis ao público. Mas neste caso e ao contrário do que reza o ditado, apesar da “jovem” florista estar longe da vista, não está longe do nosso coração.

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