quinta-feira, 15 de maio de 2025
quarta-feira, 14 de maio de 2025
terça-feira, 13 de maio de 2025
Finalizando, O DIA NACIONAL DO AZULEJO
AZULEJOS DE FACHADA
Fábrica de Loiça de Sacavém, 1910-1930
Largo dos Varadouros, n.º 5, Funchal
Que lindo verde! Tão fresco como o de um campo verdejante. Verde é esperança, vigor, natureza e juventude, quem não quer tudo isso? Ao dobrar a esquina da Praça para a Travessa dos Varadouros, espreite e não passe indiferente. Deixe-se levar pelas múltiplas sensações que despertam as diferentes tonalidades destes azulejos de uma só cor que, resistentes, sobrevivem neste recanto do Funchal.
São azulejos de padrão unitário e geométrico, composto por séries paralelas de hexágonos, alongados, debruados a pontilhado e que intercalam os de interior liso com os preenchidos com delicados enrolamentos afrontados. Realizados em pasta de pó de pedra, apresentam decoração em ligeiro relevo, prensada mecanicamente, o que resulta nos diferentes cambiantes de tom verde do vidrado transparente final. Para um efeito visual mais ritmado e subtil, estes azulejos deveriam estar assentes com o padrão alternado, de modo que as fiadas de hexágonos lisos e decorados não fossem coincidentes, mas esse foi um detalhe que o ladrilhador não respeitou.
Este é outro belo exemplo da série de azulejos Arte Nova, de produção industrial da Fábrica de Loiça de Sacavém, das décadas de 1910 e 1920. Padrões seriados deste tipo foram amplamente reproduzidos e difundidos em modelos monocromos (verde, castanho-mel, branco, entre outros), mas também nas suas versões policromas, ou seja, vidrados a mais do que uma cor. Vêem-se exemplos por todo o território nacional, sendo que na Madeira apenas se registam casos de aplicações pontuais.
Celebramos ainda, O DIA NACIONAL DO AZULEJO
AZULEJOS DE FACHADA
Ainda sobre - O DIA NACIONAL DO AZULEJO
Continuando - O DIA NACIONAL DO AZULEJO
PAINÉIS DE AZULEJOS “FLORISTA” E “FOLHAS DE BANANEIRA”
Hansi Staël (Budapeste, 1913 – Londres, 1961)
SECLA, Caldas da Rainha, 1957
Oculista Symphronio
Rua João Gago, n.º 14, Funchal
Não é educado perguntar a idade às senhoras. Mas quem acredita que esta jovem florista já entrou na terceira idade? 68 Primaveras passaram e ela continua jovial e garrida, tão fresca como as suas flores. Um verdadeiro regalo para a vista!
Era no interior do antigo “Oculista Symphronio” que se podiam apreciar 2 painéis de azulejos de temas típicos da Madeira. A florista, de traje regional com a sua cesta transbordante de flores bem equilibrada à cabeça e a outra pousada a seus pés, mostrava-se em modo de postal turístico, numa rua calcetada do Funchal. Num plano secundário, não faltava o carro de bois a passar, frente a um prédio. A segunda composição era menor e exibia folhagem de bananeiras sobre um fundo de céu claro, de um dia ensolarado. Neste trabalho cativa a pincelada solta, a aparente simplicidade do traço e a escolha dos tons, coloridos e variados. Surpreende o recorte irregular de ambos os painéis e o pormenor de num deles ter sido usada, a par da pintura cerâmica tradicional, a ancestral técnica de aresta, que subtilmente dá relevo e conduz o olhar para as longas hastes das orquídeas que a vendedora segura na mão e para outras flores variadas que enchem a cesta. A composição original era mais ousada, pois o desenho libertava-se dos azulejos e continuava, fluido e sem contornos definidos, pintado na parede, completando o carro, mas sem a preocupação de incluir os bois. Solta, do lado oposto, outra pintura mural mostrava um apontamento de barcos de pesca, com as redes ao alto e palmeira, remetendo para a pitoresca baía Câmara de Lobos.
Tradição e modernidade. Esta duplicidade está aqui bem patente e é o atributo que melhor define Hansi Staël (Budapeste, 1913 – Londres, 1961) a autora que assina este inédito revestimento, datado de 1957. Nesse preciso ano a artista, residente em Portugal desde 1946, termina a sua estreita colaboração com a Fábrica SECLA (Sociedade de Exportação e Cerâmica, Lda.), cuja direção artística assumiu em 1954 e onde fundou o Estúdio SECLA, vocacionado para as vertentes de inovação estética e decorativa da produção.
Não foi possível apurar ainda quem, ou para que estabelecimento foram adquiridos estes painéis. Mas o imóvel, projeto do Arquiteto Raúl Chorão Ramalho (Fundão, 1914-Lisboa, 2002), estava concluído em 1955, pelo que é de supor ser também da sua autoria o arranjo interior do primeiro espaço comercial do rés-do-chão e quem sabe a sugestão da própria encomenda. Em 1967, funcionava aí a representação da Fábrica de Louça de Sacavém na Madeira, pelo que é pouco plausível a aquisição de azulejos criados por um ceramista associado a outra unidade fabril. Em 1968 para aí passou o “Oculista Symphronio”, mantendo-se aberto até este ano. O espaço atualmente encerrado deverá ter outra utilização, pelo que estes belíssimos azulejos não estão de momento acessíveis ao público. Mas neste caso e ao contrário do que reza o ditado, apesar da “jovem” florista estar longe da vista, não está longe do nosso coração.
Continuação do DIA NACIONAL DO AZULEJO
PAINEL DE AZULEJOS FIGURATIVOS
António Quadros (Tondela, 1933-Tondela, 1994)
SECLA, Caldas da Rainha, ca. 1958
Casa do Bolo Caco
Rua Fernão de Ornelas, n.º 29, Funchal
Quem sabe o que se passa com este casal? Desconhecemos quem são e o que representam. Mas podemos supor. Pela sua nudez, ar desconfiado e um quê comprometido dir-se-ia tratar-se de um Adão agachado, olhando de soslaio para a Eva que dominante exibe o fruto proibido, parcialmente devorado. A tentação venceu e nada augura de bom. A envolvente é escura, as plantas e a água que jorra à direita são ameaçadoras, de tons frios e formas flamejantes. E até as flores, que brotam esporádicas, são vermelhas e amarelas como as chamas. É impossível ficar indiferente a este conjunto de azulejos que, apesar das suas linhas estilizadas, está latente de emoções.
Ao fundo do estabelecimento, este painel forra um nicho cujos azulejos fogem do formato quadrado, normalizado, e são retângulos dispostos na horizontal na composição figurativa e assentes na vertical os acinzentados das paredes laterais, onde se dispõem alternados os de padrão liso e os geométricos com volumetria. Na base, ao modo de floreira, rematam a frente blocos vidrados nos mesmos matizes de cinza e que repetem, na face frontal, o esquema de padronagem já descrito.
Este original e invulgar revestimento foi encomendado para a loja de decorações de interiores “Decorama” (a funcionar desde 1958), pelo seu proprietário o empresário madeirense Comendador João Silvério Cayres. Porta ao lado, no número 31, este célebre antiquário abrira, em 1950, o seu primeiro estabelecimento de antiguidades “Arte Antiga”. Apostando numa vertente artística alternativa, a “Decorama” oferecia uma variada gama de objetos de arte moderna (pinturas, esculturas, mobiliário, vidros e cerâmicas), daí a escolha de um painel impactante e modernista condizente com o novo espaço comercial. Segundo indicação da Dra. Luíza Clode, antiga diretora do Museu de Arte Sacra do Funchal e dedicada investigadora na área da azulejaria madeirense, estes azulejos são da autoria de António Quadros, pelo que na falta de assinatura esta atribuição é a possível e provavelmente a correta. António Augusto de Melo Lucena e Quadros (Tondela, 1933-1994) era à época um artista emergente, estudante de Belas Artes e bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, mas que o escrutínio treinado do negociante de arte madeirense soube desde logo detetar. Este artista, que se revelou em áreas tão diversas como pintura, urbanismo, arquitetura, cenografia e escrita, foi também ceramista e entrou para a SECLA, em 1959. A Fábrica SECLA (Sociedade de Exportação e Cerâmica Limitada), nas Caldas da Rainha, tornou-se a partir dos anos 50 um dos polos mais ativos de produção e experimentação de artistas contemporâneos, pelo que é mais que provável que a encomenda deste painel tenha aí a sua origem. Para uma loja que se propunha vender cerâmica nacional, contemporânea e de autor, os contactos com esta fábrica seriam então inevitáveis.