segunda-feira, 28 de junho de 2021

CORES QUE FAZEM SENTIDO - azul índigo

 

Chávena e pires

Porcelana decorada a

azul, vermelho-ferro e ouro

China, dinastia Qing, reinado Qianlong (1736-1795), c. 1790


Uma pausa para o chá? Numa chávena onde o AZUL impacta tanto quanto o ouro, só como deve ser, com etiqueta e requinte!

Chávena e pires de chá em porcelana branca pintada a azul sob vidrado e esmalte vermelho-ferro e ouro sobre vidrado. Chávena de paredes arredondadas, asa em “C” com pequena saliência no topo para apoio do polegar e pires de formato circular e covo. Ambos apresentam idêntica decoração, marcada por barra larga, circundando as bordas entre filetes azuis, com motivo encanastrado dourado servindo de fundo aos raminhos de flores variadas, azuis. A barra é rematada inferiormente por um alinhamento de motivos em “C”, dourados, entremeado de pontilhados azuis. A orla no interior da chávena e a caldeira do pires apresentam a mesma cercadura composta por filete vermelho-ferro entrelaçado com meandro de folhas azuis e douradas, alternadas e pontilhados também a dourado. Um singelo ramo florido azul, contornado a dourado, ocupa o centro do pires e a parede exterior da chávena, frente à asa. Estas duas peças integram um serviço de chá, de que restam 11 chávenas, 13 pires e duas taças, de dimensões ligeiramente inferiores às das chávenas.

Os serviços de chá tornam-se populares a partir do final do século 17, quando esta bebida, de início consumida apenas para fins medicinais, passa a ser apreciada e se populariza na Europa. Os portugueses serão os primeiros a conhecer o chá, no século 16, mas o seu comércio para o Ocidente foi empreendido pelos holandeses, cuja primeira remessa remonta a 1606 e que a partir de 1637 começa a ser transportando com regularidade. Centrado em Amsterdão o mercado do chá, rapidamente se difunde pela França, Alemanha e a Inglaterra, onde na segunda metade do século 17 era servido nas “coffee-houses”, em salas à parte destinadas às senhoras. De 1730 a 1760 decorre o período áureo deste comércio, na altura dominado pelos ingleses e, naturalmente, aumenta também a procura e encomenda dos serviços de chá em porcelana para servir e degustar a bebida.

A porcelana revela-se o material mais adequado para o consumo das novas bebidas quentes, como o chá, o café e o chocolate, pelas suas propriedades de má condução do calor, porque não interfere com o sabor do conteúdo, é de fácil limpeza e, ainda, pela sua beleza e brilho convive bem com as baixelas de prata. Conjuntos em porcelana chegam mesmo a substituir baixelas, mandadas fundir por alguns monarcas europeus em tempos de guerra. A adoção de serviços de porcelana pelas casas reais, leva à generalização do seu uso pela nobreza e burguesia endinheirada e na encomenda dos grandes serviços de mesa, surgem integrados os conjuntos para chá, café e chocolate, se bem que estes também podiam ser encomendados em separado. Um serviço de chá compreendia normalmente o bule, o frasco de chá, a leiteira, o açucareiro com tampa, a taça para resíduos, pequenas travessas para o bule para a colher, as chávenas de chá e respetivos pires e muitas vezes chávenas de café, mas neste caso, era habitual um só lote de pires servir para os dois tipos de chávenas.

Inicialmente as taças de chá exportadas para a Europa eram idênticas às usadas na China e serviam para diferentes bebidas quentes, nomeadamente para o café. Depois, aos poucos, as formas vão-se diferenciando, adaptando-se às diferentes características de cada bebida. Assim tal como na China e no Japão, de início essas taças não tinham pires associados, a produção de chávenas com pires associados generalizou-se, apenas na porcelana destinada à exportação e por influência turca ou islâmica. Entre 1660 e 1663, os pires constavam apenas esporadicamente e avulsos nas listas de carregamentos de porcelana japonesa com destino à Holanda, mas a partir de 1680 passam a surgir regularmente associados a chávenas a condizer. Não é certo quando as taças de chá passaram a ser substituídas por chávenas com asa, elas começam a ser comuns nos fornecimentos chineses do século 18, muito embora ambas as tipologias tenham coexistido durante algum tempo. Também é notório o aumento gradual do tamanho das chávenas, resultante provavelmente do hábito europeu de adicionar água ou leite ao chá. 

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