quarta-feira, 9 de junho de 2021

CORES QUE FAZEM SENTIDO - azul ciano

 

Retrato de Maria Manuela de Freitas

Guache e carvão sobre papel kraft

Rafaello Busoni (Berlim, 1900 – Nova Iorque, 1962)

Portugal, Madeira, 1935


Quando o acessório faz a diferença produz o efeito deste lenço azul, mostrando que um único apontamento de cor é suficiente para animar e valorizar o conjunto. Retrato de corpo inteiro de Maria Manuela de Freitas que se apresenta de pé, numa pose descontraída, com a mão direita na cintura e o braço esquerdo descaído ao longo do corpo. Veste calças pretas, blusa branca, de mangas compridas e colarinho desabotoado, com um lenço descaído sobre os ombros, preso ao lado com um nó. De rosto impassível, olhando ligeiramente à direita, apresenta o cabelo escuro, levemente ondulado, cortado à altura do queixo, bem ao gosto dos anos 30. Maria Manuela, carinhosamente apelidada de Necas, era a filha única do Dr. Frederico de Freitas e da sua mulher, a Senhora D. Marieta Larica do Nascimento. Nascida a 28 de outubro de 1920, a jovem teria cerca de 15 anos quando foi retratada, por Rafaello Busoni, em 1935. A atualidade do corte de cabelo e do vestuário, incomuns numa época e num meio onde poucas se aventurariam a usar calças, demostram bem tratar-se de uma rapariga moderna, segura de si, proveniente de uma família suficientemente liberal e aberta que lhe permitia acompanhar as últimas tendências da moda. De facto, deveria ser particularmente cuidada a sua educação e estreita a relação entre Maria Manuela e os pais, como tão devastadora viria a ser a sua morte, aos 19 anos, em abril de 1940.

A sua presença e memória será uma constante na Casa da Calçada, para onde o Dr. Frederico de Freitas se muda, com a família, no ano seguinte de 1941. Inúmeros outros retratos de Maria Manuela, em pintura, desenho e fotografia, testemunham a sua feliz, mas demasiado curta vida e integram hoje a coleção da Casa-Museu Frederico de Freitas. Este retrato é particularmente interessante pela expressão livre do traço, delineado a carvão, e das pinceladas soltas a guache nas cores preto, branco, rosa e azul. Essa mesma desenvoltura deixa à vista o fundo texturado e pardo do papel kraft, fazendo supor tratar-se de um apontamento rápido, uma possível atenção em agradecimento de alguma amabilidade. O Dr. Frederico de Freitas era conhecido pela sua proximidade e proteção aos artistas, e naturalmente terá apoiado Rafaello Busoni durante a sua permanência na Ilha.

Busoni chegou à Madeira, acompanhado pela mulher e filha, em janeiro de 1935, a bordo do paquete "Arlanz", na altura com 34 anos de idade. Realizou uma exposição de pintura de paisagens da Madeira, no Casino Vitória, inaugurada em 28 de março de 1935, sendo então divulgados pela imprensa local alguns dados biográficos e propagada a sua aptidão para o retrato. Nesse mesmo ano retratou várias figuras da elite funchalense, principalmente feminina.

Rafaello Busoni, nasceu em Berlim em 1900, filho de Ferruccio Busoni, músico italiano famoso, e de Gerda Sjöstrand, de nacionalidade sueca. Fez formação artística na Suíça, trabalhou em Paris e em Berlim, como ilustrador. Em janeiro de 1935 viaja, com a sua mulher Hannah e a filha do primeiro casamento, para a Madeira, onde se mantem durante cerca de um ano. Em 1936, com o início da Guerra Civil espanhola, a família regressa a Berlim, mas as origens judias da mulher determinam a partida para a Suécia, no início de 1939, e alguns meses mais tarde o embarque definitivo para Nova Iorque. Aí permaneceu até à sua morte, em 1962, exercendo a profissão de pintor e sobretudo de ilustrador de clássicos da literatura juvenil e de aventuras.

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